Sabesp: as métricas da ineficiência

Sabesp: as métricas da ineficiência


Ao longo dos últimos anos muito se vem discutindo em relação à eficiência da Sabesp, seja em matérias na imprensa, comentários de investidores, políticos ou da própria empresa.

Felizmente nesse jogo há um juiz que deveria ser soberano a qualquer outra opinião: a ARSESP, a agência reguladora do setor de saneamento básico do Estado de São Paulo, e o órgão mais qualificado para estabelecer parâmetros de eficiência na atividade de prestação desses serviços.

É a agência que determina quais os custos e despesas na prestação dos serviços; realiza a diligência necessária para constatar se houve eficiência nos investimentos para a construção da base de ativos que serão usados na atividade; e determina as tarifas, que devem cobrir os custos, despesas e a remuneração dos investimentos.

Propomos aqui fazer um exercício de comparação entre o que a Sabesp entrega de fato em cada um desses quesitos versus o que a ARSESP considera eficiente; além de expormos conclusões derivadas dessa análise.

De acordo com documentos divulgados pela ARSESP, no processo da 3ª Revisão Tarifária da Sabesp, os custos de Pessoal, Materiais, Serviços de Terceiros e Outros (PMSO) considerados eficientes pela agência reguladora são aproximadamente 20% inferiores aos projetados pela Sabesp para o período de 2021 a 2024.

Isso equivale a cerca de R$ 4,9 bilhões desperdiçados ao longo do quadriênio.

O quadro fica ainda pior quando comparamos ao que a Sabesp de fato entregou (e não o que ela projetava) no ano de 2021, já reportado. Nesse período, a Sabesp ‘underperformou’ os parâmetros regulatórios em 25%.

Pelo fato de “Despesas com Pessoal” ser a linha mais relevante dentro do PMSO, decidimos fazer uma comparação da despesa média por colaborador da Sabesp com a média do que se pratica nas empresas privadas.

Nossa constatação é de que um funcionário da Sabesp custa aproximadamente o triplo da média do que se observa nas três maiores empresas privadas do setor. Isso nos ajuda a entender algumas das razões por trás da ineficiência da Sabesp em relação aos parâmetros determinados pela ARSESP.

Quando olhamos para os investimentos feitos ao longo do tempo pela empresa, também observamos ineficiências relevantes. Com base em laudo elaborado pela Sabesp em abril de 2014, calculava-se que a Base de Ativos da empresa era de R$ 30 bilhões; porém, na época apenas R$ 23 bilhões foram reconhecidos pela ARSESP.

Posteriormente, após um longo imbróglio em relação ao tema, a agência reconheceu mais R$ 1,9 bilhão (a valores de setembro de 2021). Mesmo com esses reconhecimentos tardios e muita volatilidade que afugentou investidores, o fator de reconhecimento ainda é de 86%, bastante abaixo da média de 98% no setor de distribuição de energia elétrica, hoje operado majoritariamente por grupos privados.

Isso significa que cerca de 14% do que a Sabesp investe é a fundo perdido.

Diante desses fatos, temos basicamente duas conclusões: se os parâmetros de eficiência do setor privado fossem aplicados à Sabesp, as tarifas cobradas pelos serviços poderiam ser menores e a empresa poderia valer 3x o seu valor atual.

Tarifas menores

Aplicando na Sabesp parâmetros de PMSO por ligação alinhados com o do maior operador privado, concluímos que as tarifas de saneamento poderiam ser pelo menos cerca de 7,5% mais baratas.

O fato de a Sabesp atuar em áreas com muito mais concentração populacional faz com que ela tenha enormes ganhos de escala quando comparada às empresas privadas, que atuam em áreas com população mais dispersa. Dessa forma, o PMSO por ligação da Sabesp deveria ser consideravelmente menor (e não maior, como acontece na prática).

Valuation

A Sabesp hoje negocia a 0,7x o valor de sua base de ativos, ou seja: implicitamente, o investidor acredita que ela destruirá cerca de 30% do valor de tudo o que investe.

Esse 0,7x se compara a uma média de 1,7x das empresas privadas de distribuição de energia elétrica e a uma média de 1x em outras estatais.

Uma simples convergência de múltiplo faria com que a Sabesp saísse de um valor de mercado de R$ 30 bilhões para cerca de R$ 100 bilhões.

Nesse novo patamar de preço, uma venda de parte da participação do Estado na empresa poderia ser transformacional para investimentos em saúde, educação e segurança pública. Para efeito de comparação, o orçamento do Estado de SP para investimentos em 2022 é de R$ 27,5 bilhões, de acordo com a Casa Civil.

O próximo controlador da Sabesp deveria dar mais prioridade à população, com tarifas mais baixas, e aos investidores, com a entrega de retornos justos (calculados pela própria ARSESP).

Isso, em nossa opinião, aceleraria um grande ciclo de investimentos e desenvolvimento que está por vir com o Novo Marco do Saneamento e algumas privatizações estaduais já realizadas com o auxílio do BNDES.

A gestão atual da Sabesp parece ter cedido aos interesses da corporação – em detrimento de todos os demais.

Fabiano Custódio é sócio fundador da Miles Capital, um acionista de longa data da Sabesp.



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