Por que o investidor global está longe do Brasil


Atrair dinheiro para a América Latina e o Brasil é a especialidade da EM Funding, mas, nos últimos tempos… “tem sido muito difícil,” diz Wilber Colmerauer, o brasileiro que fundou a empresa em Londres há treze anos.

“Nós estamos há anos dizendo que o Brasil vai crescer, mas a verdade é que a América Latina e o Brasil não crescem. Nos últimos 5, 10 anos, o crescimento tem sido pífio”, disse Wilber ao Brazil Journal.

O investidor está disposto a pagar prêmio de risco quando vê uma perspectiva de lucro alta, mas, no cenário atual, a melhor relação risco-retorno está nos Estados Unidos, particularmente no setor de tecnologia.

“Existe o risco de o negócio dar errado, mas pelo menos o investidor está numa economia desenvolvida, que está crescendo, não tem problema cambial ou insegurança jurídica”, diz Wilber, cujo negócio consiste em selecionar projetos e gestoras de mercados emergentes e conectá-los a investidores institucionais globais.

Para ele, o cenário desfavorável para o Brasil até já foi pior, uma vez que de um ano para cá o País passou por uma correção importante no preço dos ativos. Ainda assim, não está fácil para o país competir também com Índia e China.

A inflação na América Latina também tem se tornado um tema relevante. Na região, o Brasil é, de longe, o país mais distante da meta.

Em parte, o País deu azar com a crise hídrica, que afetou os preços da energia, mas também existe o problema fiscal, agravado pelo abandono do teto de gastos, diz a EM Funding.

Wilber chama a atenção para o fato de que o problema da inflação é maior em economias mais frágeis como as da região, que têm tendência à indexação, memória inflacionária e problemas com o câmbio.

Para ele, o BC brasileiro errou ao jogar a Selic para 2%. “É fácil falar agora, mas me parecia claro que, na pandemia, a inflação parecia baixa porque a economia parou. Foi uma questão estatística,” tanto que boa parte da pressão inflacionária global vem também por conta da demanda reprimida na pandemia.

Agora, a expectativa de inflação parece estar saindo do controle na região e o câmbio, muito desvalorizado no Brasil, acaba sendo um problema grande, já que interfere na cadeia de preços.

A solução para conter a alta de preços no Brasil, diz Wilber, talvez passe por um overshooting nas taxas.

“Eu acho que teria mais efeito fazer um choque de alta nos juros para que a taxa volte a atrair dólares,” diz Wilber, completando que a grande questão seria saber qual o patamar adequado para a alta.

O México, outra economia relevante da região, também está lidando com a inflação, mas com uma dinâmica distinta. O BC do país, o Banxico, foi mais conservador e, na pandemia, não baixou tanto os juros, que ficaram em 4%, um dos patamares mais altos da região.

Mas o país também está convivendo com a alta acelerada de preços, que na primeira quinzena de novembro dispararam 7% para o maior nível em mais de 20 anos.

O Banxico vem subindo os juros, mas como eles caíram menos, a velocidade da alta é menor, de 0,25 em 0,25 ponto, e elas estão agora em 5%. O mercado está achando que o BC está demorando demais para subir os juros, e agora a discussão também é política.

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, surpreendeu o mercado dizendo indicando para a presidência do Banxico uma economista de sua confiança, Victoria Rodríguez Ceja.

A indicação gerou temores sobre um comprometimento na independência do Banco Central. O mercado esperava outro nome, o do ex-ministro das finanças Arturo Herrera.

Essa situação tem gerado ataques ao peso mexicano. O país não vinha sofrendo tanto com o câmbio, primeiro porque suas taxas de juros não caíram tanto na crise, depois porque as remessas de dólares de mexicanos que vivem nos Estados Unidos para o país subiram na crise.





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